Tireoidite subaguda: saiba o que é e como tratar

Quer saber como identificar e tratar a Tireoidite Subaguda? Dr. Eduardo Henrique é médico Endocrinologista em São Paulo e fala sobre a condição.

Mais sobre Tireoidite Subaguda


A tireoidite subaguda também é conhecida como tireoidite de Quervain, tireoidite dolorosa ou tireoidite subaguda granulomatosa.


É a principal causa de dor na tireoide, mais frequente em mulheres do que homens (5:1), tipicamente entre a segunda e a quinta década de vida.


A inflamação na glândula tireoide causada pela tireoidite subaguda ocasiona uma grande destruição dos folículos tireoidianos (região onde estão localizadas as células da tireoide produtoras de hormônios tireoidianos), levando a liberação dos hormônios tireoidianos sintetizados para corrente sanguínea.


Assim, nesta fase observa-se o hipertireoidismo (excesso de hormônio tireoidiano no sangue).


Ademais, após a fase inflamatória (cerca de duas a oito semanas após o início do quadro) a tireoide regenera e retorna a produção de hormônios tireoidianos.


No entanto, a produção do hormônio tireoidiano pode ser baixa para as necessidades do organismo e um quadro de hipotireoidismo é observado por até oito semanas, antes da normalização completa da função tireoidiana.


Contudo, alguns pacientes evoluem com o hipotireoidismo de forma definitiva.


O que causa a tireoidite subaguda?


Acredita-se que a tireoidite subaguda seja causada por infecção viral ou por uma resposta inflamatória após quadros de infecção viral.


Muitos pacientes têm histórico de infecção viral do trato respiratório superior antes da tireoidite (geralmente duas a oito semanas antes).


Assim sendo, os vírus mais frequentemente associados com a tireoidite são o vírus coxsackie, echovirus, vírus da caxumba, sarampo, influenza e Coronavírus (COVID-19).


Além disso, casos de tireoidite pós vacina da COVID-19, influenza, HPV e hepatite B também já foram relatados.


Apesar da autoimunidade não ser a base da tireoidite subaguda, o HLA-B35 (um componente importante do nosso sistema imunológico) é frequentemente encontrado em pacientes que desenvolvem tireoidite.

Quais são os sintomas dessa condição?

O principal sintoma da tireoidite aguda é a dor na região da tireoide, presente em 96% dos casos.


A dor pode iniciar de forma gradual ou subitamente e frequentemente é precedida por um quadro de infecção do trato respiratório superior.


Dessa forma, a dor pode se limitar à tireoide ou irradiar para região superior do pescoço, ouvidos, mandíbula ou garganta.


Outros sintomas também são comuns, como por exemplo:

  • Dor muscular generalizada;
  • Febre baixa;
  • Fadiga;
  • Falta de apetite;
  • Perda de peso;
  • Mal estar.

A partir do exame físico, a tireoide geralmente está aumentada e quase sempre bem dolorosa à palpação. Em alguns casos, a dor é tão intensa que o paciente não tolera a palpação da tireoide.


Ademais, cerca de metade dos pacientes com tireoidite subaguda apresentam sintomas e sinais de
hipertireoidismo, como palpitações, perda de peso, ansiedade e tremor.


Embora o hipertireoidismo geralmente seja leve e transitório, casos de arritmias graves e crise tireotóxica podem acontecer.

Como realizamos o diagnóstico da tireoidite subaguda?

O diagnóstico da tireoidite subaguda é baseado na histórica clínica do paciente, achados do exame físico, exames laboratoriais, ultrassonografia da tireoide  com Doppler e cintilografia da tireoide, quando necessário.


Laboratorialmente, a tireoidite subaguda se manifesta nas primeiras semanas com hipertireoidismo (TSH baixo com T3 e T4 elevados) associado a aumento dos marcadores inflamatórios proteína C reativa (PCR) e velocidade de hemossedimentação (VHS).


Além disso, outros achados laboratoriais que podemos observar são: o aumento da tireoglobulina sérica devido à inflamação da tireoide, anemia leve e aumento dos leucócitos.


Os anticorpos tireoidianos, anti-tireoperoxidase (Anti-TPO) e anti-tireoglobulina (Anti-TG) geralmente são negativos ou, quando positivos, estão em baixos títulos.


O hipertireoidismo é transitório e, após as 2 a 8 semanas do início dos sintomas, ele é seguido por um quadro de
hipotireoidismo (TSH elevado com T3 e T4 baixos ou normais).


Na ultrassonografia, a tireoide geralmente está com o volume normal ou aumentado, com áreas focais ou difusas de aspecto hipoecoico (mais escura na ultrassonografia do que o tecido tireoidiano normal).


As áreas hipoecóicas ao ultrassom frequentemente são de contorno mal definidas e podem ser confundidas com
nódulos tireoidianos (pseudonódulos), quando o ultrassonografista não está habituado com o diagnóstico de tireoidite subaguda (vide fotos abaixo). 


Ademais, o modo Doppler do ultrassom é de grande valia no diagnóstico diferencial da tireoidite subaguda com a
doença de Graves (principal causa de hipertireoidismo).


Assim, na primeira situação a tireoidite apresenta-se com fluxo sanguíneo reduzido ou menos frequentemente normal, enquanto, na doença de Graves, o fluxo sanguíneo está aumentado.

Tireoidite subaguda - entenda mais
Tratamento e cuidados para Tireoidite subaguda

A cintilografia da tireoide com Iodo ou Tecnécio (exame de Medicina Nuclear para avaliar o funcionamento da tireoide) mostra uma baixa captação nas fases iniciais da tireoidite subaguda, corroborando com o diagnóstico.


Entretanto, raramente ela é fundamental para o diagnóstico, tendo em vista que o quadro clínico do paciente associado aos exames laboratoriais e de ultrassonografia com doppler costumam ser suficientes para confirmar o diagnóstico da tireoidite subaguda.


Raramente, a
punção aspirativa por agulha fina (PAAF) é necessária para realizar o diagnóstico diferencial com outras doenças da tireoide como o linfoma e câncer de tireoide.

Quanto tempo dura a tireoidite subaguda?

A inflamação da tireoide e o hipertireoidismo são transitórios e, geralmente, regridem em até 8 semanas do início do quadro.


Muitos casos são seguidos por uma fase de hipotireoidismo transitório, geralmente assintomático, com duração entre 2 à 8 semanas, com recuperação completa da função tireoidiana na maioria dos casos (vide figura abaixo). 


No entanto,
15% dos pacientes com tireoidite subaguda podem permanecer com o hipotireoidismo de forma crônica.


Qual o tratamento para essa condição?


O tratamento do paciente com tireoidite subaguda deve ser focado no controle dos sintomas de hipertireoidismo, se presente, e no controle da dor na tireoide.   


Assim, para o controle da dor, usamos analgésicos simples com paracetamol ou dipirona e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como o ibuprofeno ou naproxeno.


Porém, para pacientes que não controlam a dor após 2 a 3 dias de tratamento com analgésicos e AINEs, o tratamento deve ser descontinuado e iniciado um corticoide oral, como a prednisona.


Ademais, o paciente com sintomas mais intensos da tireoidite também se beneficiam da terapia com corticoide. Nestes casos, normalmente, o tratamento com prednisona por duas a oito semanas é necessário.


Pacientes com hipertireoidismo sintomáticos, com frequência cardíaca aumentada, palpitação, tremor e ansiedade devem ser tratados com betabloqueador, como o propranolol ou o atenolol, até a remissão do hipertireoidismo. 


As drogas antitireoidianas oral, opções muito usadas no controle de outras causas de hipertireoidismo com a doença de Graves e o bócio multinodular tóxico, não possuem efeitos no controle do hipertireoidismo por tireoidite aguda.


Isso porque, nesta situação, o aumento dos hormônios tireoidianos deve-se a destruição dos folículos da tireoide com liberação dos hormônios tireoidianos já sintetizados e não da produção excessiva de hormônios tireoidianos.


Também não indicamos a terapia com radioiodo neste caso, pois a captação do iodo radioativo é muito baixa e a doença geralmente é autolimitada.


O hipotireoidismo que ocorre na fase tardia da tireoidite subaguda geralmente não necessita da reposição com hormônio tireoidiano, pois frequentemente é assintomático, leve e de curta duração.


Em casos com hipotireoidismo mais intenso (TSH >10 mU/L) e com sintomas moderados ou intensos, o tratamento com levotiroxina deve ser considerado.


Como é o seguimento do paciente com tireoidite subaguda?


Pacientes com tireoidite subaguda são monitorados clinicamente e laboratorialmente a cada
duas a oito semanas até a confirmação da resolução do hipertireoidismo, detecção do hipotireoidismo e subsequente normalização da função tireoidiana.


Após a resolução da tireoidite subaguda, é importante monitorarmos a função tireoidiana do paciente a cada 6 a 12 meses, tendo em vista que uma pequena parcela dos pacientes com antecedente de tireoidite subaguda,
1,6 a 4%, pode ter recorrência do quadro.


Cerca de 15% dos pacientes com tireoidite subaguda evoluem com hipotireoidismo definitivo, com necessidade de reposição de hormônio tireoidiano.


Nesse caso, é necessário avaliar a função tireoidiana a cada oito semanas até a estabilização dos níveis dos hormônios tireoidianos e a cada 6 meses após controlados.


Assim, caso você inicie com de
dor na região da tireoide, acompanhado ou não de sintomas de hipertireoidismo (exemplo: palpitação, tremor, perda de peso ou ansiedade), procure um endocrinologista, pois pode ser um sinal de tireoidite subaguda.


É muito importante contar com um especialista experiente no tratamento das doenças da tireoide para fazer uma avaliação e receber o encaminhamento correto!