O que toda mulher precisa saber sobre a síndrome dos ovários policísticos

5 de novembro de 2021

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma das condições clínicas mais comuns dentre as disfunções endocrinológicas e metabólicas nas mulheres pré-menopausa, afetando entre 5 a 20% das mulheres em idade reprodutiva. 

A SOP é caracterizada pela presença de hiperandrogenismo (excesso dos hormônios sexuais masculinos), com diferentes graus de manifestação clínica e a anovulação crônica (ciclos menstruais sem ovulação).


O que causa a SOP?

Vários fatores têm sido implicados na etiopatogenia da SOP, havendo componentes genéticos envolvidos, fatores metabólicos pré e pós-natais, distúrbios endócrinos hereditários, resistência à insulina e fatores ambientais (dieta e atividade física).


Dentre os mecanismos endócrinos envolvidos na causa da SOP está o padrão da secreção das gonadotrofinas, há um aumento da secreção do hormônio luteinizante (LH)  produzido pela hipófise. Esta secreção aumentada de LH estimula os ovários a produzir quantidades aumentadas de andrógenos, predominantemente testosterona, um dos principais hormônios responsáveis pelos sintomas da SOP.


Além das alterações das gonadotrofinas, frequentemente encontramos um padrão de resistência insulínica e níveis elevados de insulina em pacientes com SOP, independente da presença ou não de obesidade. O aumento da insulina tem efeito direto nos ovários, estimulando a produção de andrógenos.


Além do efeito direto nos ovários, estimulando a produção de  andrógenos, a insulina diminui a produção da proteína carreadora de androgênios (SHBG) pelo fígado, este efeito aumenta a concentração de testosterona livre (fração ativa da testosterona) levando a um maior estímulo dos receptores de andrógenos do nosso organismo.

Quais são os sintomas da SOP?

Irregularidade menstrual- Se a ovulação não ocorre a camada interna do útero, chamada de endométrio, não se desprende por completo e continua a crescer progressivamente.


Com o acumular de ciclos sem ovulação o  endométrio torna-se mais espesso e pode desprender-se irregularmente, o que pode resultar em sangramentos intensos e/ou prolongados ou atrasos menstruais.


A ausência de menstruação regular pode levar a um aumento excessivo do endométrio (chamado de hiperplasia endometrial) ou mesmo de câncer de endométrio (Risco aumento em cerca de 2-3x em relação à paciente sem SOP). 


Hiperandrogenismo

O hirsutismo, definido como o excesso de pelos grossos e pigmentados no corpo em locais tipicos do sexo masculino (Exemplo: Face, queixo pescoço, abdome, parte interna das coxas e  seios) está presente em 70 a 80% das mulheres com SOP. Outras manifestações clínicas  comuns do excesso de andrógenos na SOP são a pele oleosa, acne e  queda de cabelos no couro cabeludo.


Ganho de peso e obesidade

A SOP é associada com ganho gradual de peso e obesidade em cerca de metade das pacientes. Frequentemente o ganho de peso se inicia na adolescência.


Infertilidade

Mulheres  com SOP geralmente não ovulam regularmente, e isso dificulta a taxa de sucesso para a gestação. Uma investigação aprofundada para causa da  infertilidade é indicada se a paciente está tentando engravidar sem sucesso por um período maior de 6 a 12 meses. 


Apneia do sono

A apneia do sono causa roncos fortes e interrupções temporárias na entrada de oxigênio para os pulmões durante o sono. Pacientes com essa condição frequentemente apresentam sonolência durante o dia, fadiga e sensação de sono não reparador.  Também apresentam maior risco para resistência insulínica, obesidade, doenças cardiovasculares, infarto, arritmias e AVC. A apneia do sono ocorre em até 50%  das pacientes com SOP. 


Outros sintomas

Depressão, ansiedade, disfunção sexual, bulimia e compulsão alimentar.

Como fazer o diagnóstico de SOP?

Não existe um exame isoladamente que faça o diagnóstico de SOP. O diagnóstico de SOP é realizado baseado nos seus sintomas, exames de sangue, ultrassom dos ovários e no exame físico. 


Para o diagnóstico de SOP a mulher deve apresentar dois de três das seguintes alterações abaixo:


  • Períodos menstruais irregulares causados por ausência de ovulação ou ovulação irregular.
  • Evidência de níveis elevados de andrógenos. A evidência pode ser baseada em sintomas (crescimento excessivo de pelos, acne ou calvície de padrão masculino) ou exames de sangue  (níveis elevados de andrógenos).
  • Ovários de aspectos policísticos ao ultrassom. 


Além disso, não deve haver outras causas de elevação dos andrógenos ou para irregularidade menstrual (Exemplo: Tumores secretores de androgênios no ovário ou glândula adrenal, hiperplasia adrenal congênita, hipotireoidismo, aumento da prolactina).


O critério ultrassonográfico não é obrigatório para o diagnóstico, afinal 7 a 20% das mulheres com SOP podem ter USG de ovários normal. Além disso, 20% das mulheres normais podem apresentar achados ultrassonográficos compatíveis com ovários micropolicísticos mesmo sem ter a síndrome. Por isso, esse achado corrobora para o diagnóstico, mas deve ser avaliado em conjunto com os outros sinais, sintomas e achados para se fazer o diagnóstico de SOP.

Como a SOP é tratada?

Temos vários tratamentos disponíveis para o controle dos sintomas da SOP. A maioria das mulheres com SOP levam uma vida normal, sem complicações, quando tratadas adequadamente. 


Anticoncepcionais orais com combinação de estrógeno e progesterona (AOC)- Os anticoncepcionais orais são o tratamento mais comumente usado para regularizar os períodos menstruais em mulheres com SOP. Eles protegem a mulher contra a hiperplasia e o câncer do endométrio. Também são eficazes no tratamento do hirsutismo e acne.


Muitas mulheres temem ganhar peso com a pílula, porém atualmente usamos pílulas com dosagem hormonal mais baixas no tratamento da SOP, não sendo um risco significativo para a maioria das pacientes. O AOC é seguro e eficaz, embora aumente ligeiramente o risco de coágulos sanguíneos nas pernas ou os pulmões esta complicação é rara em mulheres jovens  e saudáveis que não fumam. 


DIU (dispositivo intrauterino) Mirena

O  DIU Mirena além de ser um método contraceptivo ajuda a controlar o sangramento menstrual e protege contra o câncer de endométrio, porém diferentemente dos anticoncepcionais com estrogênio e progesterona ele não é eficaz para o controle da acne ou excessos de pelos. 


Progesterona

A progesterona isoladamente é um método eficaz para tratar a irregularidade menstrual, pode ser uma opção para mulheres que por algum motivo de saúde não podem usar anticoncepcionais com estrogênio na composição e não desejam usar o DIU.  O seu uso por 10 a 14 dias a cada 1 a 3 meses irá reduzir o risco de câncer de endométrio e regularizar o fluxo menstrual, porém  não é eficaz para o controle da acne ou excessos de pelos e não evita a gravidez. No brasil usamos principalmente  a medroxiprogesterona (Provera®) ou a progesterona micronizada (Evocanil® ou Utrogestan®)


Metformina

A metformina (Glifage® ) é um medicamento que melhora a eficácia da insulina produzida pelo nosso pâncreas. Geralmente reservamos seu uso para mulheres com SOP associado a diabetes tipo 2, pré-diabetes ou como auxiliar no tratamento de infertilidade.


Espironolactona

A espironolactona (Aldactone®) bloqueia o receptor androgênico e inibe uma enzima chamada 5 alfa redutase, envolvida na produção dos andrógenos. Usamos a espironolactona para controle do hirsutismo, calvície e acne. Como a espironolactona e seus metabólitos atravessam a placenta e podem causar alterações na formação da genitália do feto, ela não deve ser usada na ausência de uso de método contraceptivo eficaz. 


Perda de peso

Perda de 5 a 10% para pacientes que estão acima do peso já trazem grande mudanças metabólicas na paciente com SOP, com melhora da resistência insulínica, queda da testosterona livre, aumento da produção da proteína carreadora de androgênios (SHBG) pelo fígado e consequente melhora do hiperandrogenismo. 


Exercício físico

A prática de 150 a 300 minutos de atividade física semanal traz melhora significativa da resistência insulínica e consequentemente ameniza os sintomas da SOP. 


Medidas cosméticas

Pacientes com excesso de pelos podem associar ao tratamento medicamentoso o laser que frequentemente resulta em um controle mais rápido  e duradouro. Outras medidas cosméticas utilizadas são a depilação mecânica e descoloração. Para controle da acne podemos associar creme à base de retinóides ou antibióticos. 


Indução da ovulação

Para mulheres com desejo de gestação que não conseguiram engravidar de forma espontânea após mudanças do estilo de vida, é possível induzir o ovulação com medicações como o clomifeno, letrozol e gonadotrofinas, em caso selecionados pode ser necessário técnicas de reprodução assistida. A escolha da melhor estratégia deve ser individualizada e levar em conta fatores como obesidade, tabagismo, hiperandrogenismo, idade e existência  de outras causas de infertilidade, além do tempo de infertilidade. 

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